REBOOT, 2 lecciones de arquitectura / Pavilhão do Uruguai na Bienal de Veneza 2016

"REBOOT, 2 lecciones de arquitectura" é o conceito central que representa o Pavilhão do Uruguai na Bienal de Veneza 2016. Inaugurado em 26 de maio, o espaço centra-se na arquitetura informal que é erguida por aqueles que "não tem mais ferramentas para a construção de seu espaço vital do que seus próprios corpos e seu instinto de sobrevivência". Edifícios que, seguindo a equipe responsável, funcionam como um depósito de sentido para a arquitetura que fazemos hoje em dia.

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Descrição Oficial.

Não expomos edifícios, mas construções

O visitante não encontrará nessa exposição edifícios inovadores por sua espacialidade, forma, tecnologia ou gestão. Não há nela nenhum tipo de construções materiais que estamos habituados. Apresentam-se construções de resguardos fortes o suficiente para dar abrigo vital em um ambiente extremamente adverso.

Não apresentamos objetos intangíveis

Não há novidade nos objetos empregados nos acontecimentos expostos, mas nos intangíveis que com eles foram gerados. A proposta convida a compreender esse outro valor e vislumbrar suas implicações para a arquitetura. Não há nenhuma novidade no aparente; nem nas fachadas ou nas plantas. Não há busca de cortes surpreendentes ou resoluções formais preocupadas com a estética. Definitivamente o visitante não encontrará nessa exposição qualquer coisa que aprendemos como arquitetura, mas apenas os campos de interesse no manejo do espaço real e simbólico.

REBOOT, 2 lecciones de arquitectura / Pavilhão do Uruguai na Bienal de Veneza 2016. Imagem © Laurian Ghinitoiu

Não há beleza evidente

...mas o "encontro casual de um guarda-chuva e uma máquina de costura em uma mesa de dissecação." *

O visitante do Pavilhão uruguaio não deve buscar, então, beleza na lúgubre espacialidade de uma "tatusera", um "berretín" ou de uma "cárcel del pueblo". Tão pouco na fuselagem destruída de uma aeronave arduamente ambientado como um abrigo improvisado após um acidente brutal. Convidamos o visitante a se envolver com a mostra e construir sua própria estratégia de decodificação e entendimento gerando suas próprias relações de eventos apresentados entre si e com a disciplina. Toda nova relação encontrada dará sentido à exposição.

* Isidore Lucien Ducasse (Montevidéu, Uruguai, 4 de abril de 1846 – Paris, França, 24 de novembro de 1870), conhecido como Conde de Lautréamont (em francês, Comte de Lautréamont). É considerado um dos precursores do surrealismo.

REBOOT, 2 lecciones de arquitectura / Pavilhão do Uruguai na Bienal de Veneza 2016. Imagem © Laurian Ghinitoiu

Não há lugar comum, mas sua construção

Não havia, na data, relação alguma entre ambas experiências. Ainda que seus protagonistas sejam contemporâneos e, na maioria, habitantes da mesma pequena cidade, Montévideu, eles não se conheciam. Viveram durante a mesma época, com a mesma idade e experiências de vida que marcaram a eles e a sociedade que integram, mas não há qualquer identificação entre os dois grupos. A relação e a exposição coletiva de ambas experiências é, em si mesmo. uma construção nova e um convite a conceitualizá-las em um plano diferente ao que feito na data. É justamente a construção dessas relações através da arquitetura o que acaba definindo um novo campo de estudo.

Não expomos artistas, mas arte

Não há vontade artística nos criadores que apresentamos, mas infinidades de ações factíveis de serem lidas como criações de valor artístico. A artisticidade - se há - pretende ser construída desde a interpretação e o relato que delas é feito. Ainda que os protagonistas não sejam responsáveis da livre leitura que, 45 anos depois, fazemos desses acontecimentos, desejamos agradecê-los por compartilhar generosamente a infinidade de publicações e entrevistas da rica experiência que desencadeia hoje essa leitura desde a disciplina arquitetônica.

REBOOT, 2 lecciones de arquitectura / Pavilhão do Uruguai na Bienal de Veneza 2016. Imagem © Laurian Ghinitoiu

Não pretendemos certezas, mas estímulos

Convidamos o visitante da mostra do pavilhão uruguaio na Bienal de Veneza a despojar-se de suas certezas e ter contato com outros registros possíveis para o arquitetônico. Propomos apreciar e aprender com a riqueza de construções humanas capazes de gerar sentido de pertencimento a um lugar -  ainda que seja inóspito - ou a um coletivo - ainda que seja desagregado - usando para isso outros tipos de recursos que tradicionalmente manejam os arquitetos.

Não expomos espaços, mas campos de força

Não é a qualidade do espaço feito, nem o desenvolvimento técnico utilizado para construí-lo onde deve buscar-se o interesse das experiências apresentadas. Trata-se de entender a potência atingida nas construções que, cimentadas na convicção e força do espírito humano-  puderam subjugar as adversidades que enfrentaram. Estas são as obras que conseguem gerar espacialidades definidas usando apenas resíduos e auras. Os vínculos e fidelidades humanas são suas paredes sólidas de proteção.

REBOOT, 2 lecciones de arquitectura / Pavilhão do Uruguai na Bienal de Veneza 2016. Imagem © Laurian Ghinitoiu

Não expomos perfeição, mas convicção

Esta exposição apresenta a capacidade criativa dos seres humanos confrontados com um ambiente que reconhece como superior a si. Trata-se da estratégia - e força - da fraqueza. Fala da "arte do possível", mas não como aceitação passiva das condições adversas, mas o poder subversivo de condenação ante as mesmas. Não há nessas construções a busca pela perfeição - sempre ilusória-  que é obsessão da arquitetura. Não se trata de edifícios pensados para representar o poder, ou para redimir os desequilíbrios sociais. Diríamos, sem medo de equivocarmos, que expõem como área de interesse o outro extremo no espectro das construções humanas.

Não são obras de "concreto", mas "concretizações"

Este trabalho não é sobre a tectônica ou o o que é tradicionalmente entendido por arquitetura. No lugar disso, construções humanas inteligentes e eficientes desencadeadas pela adrenalina da sobrevivência extrema. É por isso que nos referimos a tempos imemoriais, tanto quanto o futuro. Não é, neste caso, a técnica e a qualidade dos espaços em questão. Esta exposição encontra motivação na fervorosa esperança de estender as fronteiras de interesse da arquitetura e arquitetos a partir do conhecimento da rica experiência humana.

Planta da Instalação

Não era possível

Esta mostra não foi projetada ou executada por profissionais, as traduções não foram feitas por tradutores, as ideias e conceitos apresentados não foram investigados por acadêmicos de dedicação exclusiva. Tudo foi elaborado e construído pela equipe de curadores e um punhado de amigos em pouco mais de um mês, fora do horário de trabalho, e com recursos muito escassos (O orçamento destinado à exposição uruguaia - ainda que signifique um grande esforço ao país - é realmente pequeno em relação às demais mostras nacionais e específicas da Bienal de Veneza). Por isso a mostra e o catálogo que a representa são a metáfora do que expõe: celebram com despudor a arte do possível. Não devíamos estar aqui, mas, como disse Obdulio Varela na final do Maracanã em 1950, onde provavelmente não deveríamos ter estado, "os de fora são de pau".

Equipe Responsável: Marcelo Danza, Antar Kuri, Borja Fermoselle, Diego Cataldo, José De Los Santos, Marcelo Staricco, Miguel Fascioli
Colaboradores: Mateo Vidal, Facundo Romero, Matteo Locci
Fotografias: Laurian Ghinitoiu

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Sobre este autor
Cita: ArchDaily Team. "REBOOT, 2 lecciones de arquitectura / Pavilhão do Uruguai na Bienal de Veneza 2016" [REBOOT, 2 lecciones de arquitectura / Pabellón de Uruguay en la Bienal de Venecia 2016] 12 Jun 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Souza, Eduardo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/789289/reboot-2-lecciones-de-arquitectura-pavilhao-do-uruguai-na-bienal-de-veneza-2016> ISSN 0719-8906

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